quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Contos que viram música. Ou vice-versa.

Sou um enorme fã do João Bosco. Pela  sua genialidade, pelo seu estilo no violão e cantando, por suas composições.
E compondo - especialmente em parceria com o também gênio Aldir Blanc - a dupla fez coisas que me fascinam: letras de música que são na verdade pequenos contos, historinhas da vida cotidiana. Têm começo meio e fim, uma coisa perfeita.
Então fiz o seguinte: peguei quatro destas e transformei as letras em texto corrido, tirando as repetições dos refrões a letra virou prosa.
Vejam só como são mini contos, um sério e os outros engraçados, começando com o sério

De frente pro crime:

Tá lá o corpo estendido no chão. Em vez de rosto uma foto de um gol, em vez de reza uma praga de alguém, e um silêncio servindo de amém...
O bar mais perto depressa lotou, malandro junto com trabalhador; um homem subiu na mesa do bar e fez discurso pra vereador...
Veio o camelô vender anel, cordão, perfume barato; e baiana pra fazer pastel e um bom churrasco de gato.
Quatro horas da manhã baixou o santo na porta bandeira e a moçada resolveu parar, e então...
Sem pressa foi cada um pro seu lado, pensando numa mulher ou no time; olhei o corpo no chão e fechei minha janela de frente pro crime...

Agora veja e ouça a música:



Agora, a engraçadíssima A Nível de...

Vanderley e Odilon são muito unidos e vão pro Maracanã, todo domingo, criticando o casamento; e o papo mostra que o casamento anda uma bosta...
Yolanda e Adelina são muito unidas e se fazem companhia todo domingo que os maridos vão pro jogo. Yolanda aposta que assim a nível de proposta o casamento anda uma bosta. E a Adelina não discorda.
Estruturou-se um troca-troca,  e os quatro: hum-hum... oquei... tá bom... é...
Só que Odilon, não pegando bem a coisa, agarrou o Vanderley e a Yolanda ó na Adelina.
Vanderley e Odilon, bem mais unidos, empataram capital e estão montando restaurante natural, cuja proposta é cada um come o que gosta.
Yolanda e Adelina, bem mais unidas, acham viver um barato e pra provar tão fazendo artesanato;
e pela amostra Yolanda aposta na resposta e Adelina não discorda que pinta e borda com o que gosta.
É positiva essa proposta? E os quatro: hum-hum... oquei... tá bom... é...
Só que Odilon ensopapa o Vanderley, com ciúme a Adelina dá na cara de Yoyô...
Vanderley e Odilon, Yolanda e Adelina... Cada um faz o que gosta; e o relacionamento continua a mesma bosta!

Veja a música:



Agora, a suburbana crônica Siri recheado e o cacete:

Saí com a patroa pra pescar no canal da Barra uns siris pra rechear; siri, como ela encheu de me avisar, era o prato predileto do meu compadre Anescar.
Levei arrastão e três puçás - um de cabo, outros dois de jogar. De isca um sebo da véspera e pra completar cachaça Iemanjá, birita que dá garantia de ter maré cheia.
Choveu siri do patola, manteiga, azulão, um camaleão, no tapa a minha patroa espantou três sereias.
Na volta, ônibus cheio, o balde derramou, em pleno coletivo um gato se encrespou...
O velho trocador até gritou: "Não bebo mais! Siri passando em roleta, mesmo pra mim é demais!"
De medo o motorista perdeu a direção, fez um golpe de vista, raspou num caminhão, pegou um pipoqueiro, um padre, entrou num butiquim, o português da gerência quase voltou pra Almerim...
Quiseram autuar nossos siris mas minha patroa subornou a guarnição, então os cana-dura, mais gentis, levaram a gente e os siris pra casa na Abolição.
Depois do "te logo", "um abração", fui botar os siris pra ferver. Dentro da lata de banha era um tal de chiar, pagava pra ver, tranquilo o compadre Anescar colocando o azeite
Foi um trabalho de cão, mas valeu o suor: croquete, bobó, panqueca, siri recheado, fritada e o cacete.
O Anescar chegou com uma de alambique, me perguntou se eu era "Mendonça ou Dinamite?"
Abri uma lourinha, trouxe um prato de croquete, o Anescar mordeu um, feito quem come gilete...
Baixou minha patroa: Anesca, que qui há? O Anescar gemeu:  dieta de lascar! O médico mandou que eu coma tudo que pintar, até cerveja e cachaça, menos os frutos do mar...

O vídeo:



Para finalizar, esta mini obra prima chamada Incompatibilidade de Gênios:

Dotô, jogava o Flamengo, eu queria escutar. Chegou, mudou de estação, começou a cantar.
Tem mais, um cisco no olho, ela em vez de assoprar, sem dó falou que por ela eu podia cegar.
Se eu dou um pulo, um pulinho, um instantinho, no bar... Bastou, durante dez noites me faz jejuar.
Levou as minhas cuecas pro bruxo rezar; coou meu café na calça pra me segurar.
Se eu tô devendo dinheiro e vem um me cobrar, Dotô, a peste abre a porta e ainda manda sentar.
Depois, se eu mudo de emprego que é pra melhorar, vê só, convida a mãe dela pra ir morar lá.
Dotô, se eu peço feijão ela deixa salgar; calor, mas veste o casaco pra me atazanar.
E ontem, sonhando comigo mandou eu jogar no burro e deu na cabeça a centena e o milhar.
Ai, quero me separar.

Veja só:










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