Confesso que tenho pena das mulheres equilibrando-se em seus saltos altos. São desconfortáveis e parecem não terem sido feitos para caminhar sobre eles. Péssimos em pisos molhados, grama, paralelepípedos, areia, calçadas esburacadas. Ficam presos em buracos, são péssimos para dirigir. E por aí vai.
Mas homens também os usaram, durante muitos séculos.
No Oriente próximo, era indispensáveis para quem quisesse cavalgar bem. A Pérsia tinha a maior cavalaria do mundo e todos os soldados usavam sapatos como estes da foto abaixo, do século 17 e com sementes de mostarda prensadas na sola para aumentar a tração. O salto, é claro, tornava mais fácil manter os pés no estribo.
Em 1599 a Pérsia mandou sua primeira missão diplomática à Europa e os sapatos altos dos diplomatas caíram no gosto dos ricos europeus. A coisa virou moda, apesar das ruas barrentas das cidades de então.
Um grande fã dos sapatos altos foi Luiz XIV, rei de França. Ele disfarçava seu 1m63cm de altura com saltos de até 10 centímetros em sapatos luxuosos e que às vezes eram pintados à mão com cenas de batalha. Veja o rei fazendo pose de cara alto e sexy neste retrato de 1701:
O rei Charles II, da Inglaterra, tinha 1m85cm mas ainda assim o retrato pintado em sua posse, em 1650, o mostra com sapatos de alto alto.
Em 1675 Luiz XIV, apaixonado por saltos vermelhos, baixou lei determinando que apenas os membros de sua corte poderiam ter saltos vermelhos em seus sapatos.
E exatamente porque os homens os usavam as mulheres também entraram na onda dos saltos altos. E por motivos estranhos: elas achavam que os saltos davam uma aparência máscula, e a moda para elas era ter um visual mais masculino.
Ou seja: mais um suplício para as mulheres inventado pelos homens...
A coisa ficou assim entre os ricos, com sapatos unissex e de salto, até o final do século XVII. Aí os homens passaram para modelos mais robustos e as mulheres para sapatinhos mais elaborados e de saltos cheios de curvas.
E aí, por volta de 1730, chegou a hora da chamada Grande Renúncia Masculina: eles largaram das jóias, dos cabelos elaborados, das roupas pomposas e cheias de cor. E dos saltos altos: a partir de 1740 eles foram privilégio feminino.
Mas por volta de 1790, por causa da revolução francesa, as mulheres abandonaram de vez os saltos. E eles só voltaram com força a partir da segunda metade do século 19.
Mas não podemos esquecer que ainda hoje alguns homens usam saltos, como estes num desfile de orgulho gay na Espanha:
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