Traduzo um trecho de um artigo de David D. Levine, nos Anais da Pesquisa Improvável. O texto é um primor e tentei inventar equivalentes para seus neologismos, em itálico na tradução.
A ilustração é de Lino Martins.
Notas de uma expedição ao povo do Celuar
O Povo do Celuar é composto por numerosas tribos. Embora mutuamente dependentes entre si, estas tribos são ferozmente competitivas e uma boa parte de seu tempo é gasta em manobras por posição, formando e quebrando alianças, barganhando como forma de conseguir vantagens sobre outras tribos.
Entretanto, eles pouco, se tanto, se envolvem em guerras de verdade. Na verdade, uma casta especial de xamãs conhecida como os advogads conduz complexas e ritualizadas disputas formais pela dominância. Estas disputas podem levar anos ou décadas para serem decididas e a cada momento uma tribo pode estar combatendo em dezenas ou centenas de frentes. Devido à complexidade das questões, não é atípico que os dois lados envolvidos declarem vitória independente da decisão final.
A vestimenta do Povo do Celuar é uniforme em todas as tribos e em todos os níveis de status. Consiste num casaco de lã ou algodão de cor escura, com calças combinando e camisa de algodão ou poliéster em cor mais clara. A aparência sombria desta indumentária, chamada de teno, é aliviada pelo uso de uma faixa de cores vivas, chamada gavata, usada ao redor do pescoço. O significado das cores desta faixa ainda não foi determinado, embora ela seja usada apenas de acordo com o status da pessoa. Esse status, entretanto, é exibido por sutis diferenças de corte e qualidade dentro da rígida moldura dessa indumentária.
Um indicador mais confiável de status é a presença ou ausência de vários objetos icônicos.
As pessoas do Povo do Celuar são normalmente vistas carregando ao menos um objeto icônico, ou dispositmóve, durante todo o tempo. Esses objetos são usados para comunicação com seus deuses em busca de orientação e bençãos durante todo e qualquer evento importante. A posse de um dispositmóve poderoso confere poder e prestígio ao proprietário. Já um membro do Povo do Celuar que tem a infelicidade de ter roubado ou perder seu dispositmóve fica completamente devastado e não consegue comer ou dormir até que ele seja recuperado ou substituído.
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