segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Tatuagem, uma história de marinheiros

A atual onda de tatuagens no mundo ocidental, que cresce sem parar, pode ser rastreada até o século 15. E está intimamente ligada a marinheiros. Naquele tempo, eles tatuavam os nomes dos lugares que visitavam e também o de suas cidades natais, de suas esposas e filhos, para que as famílias pudessem ser avisadas caso seu navio afundasse.
Logo, na memória popular, passou a haver uma conexão entre marinheiro e tatuagem - uma coisa era parte da outra.
Mesmo a palavra tatuagem - tatoo, em inglês - foi disseminada por um marinheiro, o famoso capitão James Cook: ele a tirou do original polinésio tautau, palavra que ouviu numa viagem ao Taiti.  E até a segunda metade do século 20 tatuagens ainda eram coisa de marinheiros - e presidiários.
Esta foto é de 1942, na loja de um tatuador na Dinamarca  - os clientes são marinheiros.



Mas nativos do Pacífico Sul já há muito tempo haviam transformado a tatuagem em uma arte.
Este escravo da imagem abaixo foi capturado em 1691 pelo navegador William Dampier:


Nativos tatuados eram mais um motivo para que os marinheiros quisessem decorar seus corpos.
E eles foram aumentando sua criatividade, passando das âncoras e rosas dos ventos a desenhos mais complexos, muitos deles frutos de superstição. Um porco e um frango, por exemplo, eram tatuados nos seus pés para evitar a morte por afogamento. Havia ainda tatuagens específicas para combater reumatismo, artrite, manter as  mãos fortes e as articulações lubrificadas. Os marinheiros enchiam seus corpos com elas.
Ou abusavam da tatuagem artística, como este de 1943, chamado capitão Elvy:
Captain Elvy, who worked as a sideshow attraction, displays his beautiful back piece designed by "Sailor" George Fosdick.

Duas tatuagens interessantes do início do século passado estão abaixo: à esquerda a esposa de um tatuador, à direita um marinheiro, em 1907:

Left, a 1907 portrait of Mrs. Maud Stevens Wagner, the wife of tattooist Charlie Wagner. Right, a sailor with a patriotic chest piece by West Coast tattooist Bert Grimm.

Durante a Segunda Guerra Mundial os norte-americanos usaram tatuagem num pôster pedindo silêncio aos marinheiros, por que uma palavra poderia provocar o afundamento de um navio pelos inimigos:

Even official U.S. Navy posters incorporated the ubiquitous nautical tattoos, like this image from the "Loose Lips Sink Ships" campaign of the '40s.

Um cara que botou a tatuagem num nível artístico superior foi o Jerry, veterano marinheiro que ao se aposentar começou a fazer tatuagens em Honolulu. Seus desenhos eram de altíssima qualidade, e dizem que ficavam ainda melhor na pele humana do que nesta folha de amostras:

A sheet of Sailor Jerry's flash shows his expressive, clean-lined style.

O Marinheiro Jerry trabalhou da década de 30 à de 70 do século passado, inspirou e proporcionou um novo padrão para as novas gerações de tatuadores. Sua fama era tão grande que ele tatuou até o Rei Frederico IX da Dinamarca, que na foto abaixo exibe, orgulhoso, seu corpo desenhado:


E a coisa não parou mais de crescer. Já em 1936 a revista Time publicou matéria dizendo que um em cada dez norte-americanos tinha tatuagens:
A spread from the 1936 "Life Magazine" expose on tattoos in America.

E o resto é história recente, o que se vê agora: eu, particularmente, acho que muito breve vai ser anormal não ter pelo menos uma tatuagem.












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