"Depois de trabalhar no ramo do sexo por cerca de sete anos, encontrei um cara de quem gostava. Ele tinha um grande problema com o que eu fazia por dinheiro, e assim a coisa terminou rapidamente. Foi então que percebi que eu não queria mais vender 'a experiência da namorada', que é como chamamos no setor a venda de sexo com a aparência de um encontro romântico de namorados. Eu queria ser uma namorada de verdade, queria usar meus títulos acadêmicos pelos quais trabalhei tanto. Para mim, descobri, a indústria do sexo e a vida normal não podiam se misturar. Queria sair, como aconselham tantos críticos do negócio.
Não foi fácil. Enfrentei uma constelação de desafios que fizeram a transição incrivelmente difícil. Precisei de muitas tentativas antes de realmente sair. E quando finalmente larguei para ser uma professora de escola pública em Nova Iorque, acabei demitida por ter contado num blogue sobre meu passado.
Embora as trabalhadoras do sexo possam amar, odiar ou se sentir ambivalentes sobre seu trabalho, nenhuma pensa em ficar no ramo para sempre. Mas as razões complexas que fazem alguém entrar nesse negócio são as mesmas que dificultam a saída.
Eu me envolvi pelas minhas circunstâncias econômicas. No meu segundo ano de faculdade fui fazer um intercâmbio em Oaxaca, no México, trabalhando também como voluntária numa pré-escola para crianças indígenas de rua. Mas o dinheiro acabou e quando estourou meu cartão de crédito fui ser dançarina e striper num clube local. Mais tarde, me graduando em Nova Iorque, passei a vender sexo através da Craiglist (um enorme site de classificados nos EUA, que agora já não aceita mais anúncios de profissionais do sexo).
O trabalho com sexo supria minhas necessidades, como as de muitas outras. Corey Shdaimah, diretor de um programa de recuperação de prostitutas em Baltimore, diz que o trabalho com sexo era uma 'escolha racional' para as mulheres que ele conheceu. Embora nem todas as mulheres na indústria não tenham controle sobre seu trabalho, a maior parte delas são tipicamente sobreviventes de infâncias com negligência, maus tratos, abuso sexual, desinteresse ou negação dos pais.
Eu nunca fui molestada quando criança, em Ohio. Mas eu tinha um pai emocionalmente ausente e uma mãe cada vez mais preocupada com as dívidas que cresciam, a morte de seus pais e um casamento que desmoronava. Agora sei que o sentimento de ficar rica rapidamente com a venda de sexo me lembrava da excitação que sentíamos quando meu pai, um jogador compulsivo, chegava em casa após um dia de sorte nas corridas de cavalos.E o segredo, do tipo 'não pergunte, não fale" na indústria do sexo, é similar ao ambiente em que cresci, onde eu nunca deveria falar dos problemas da família.
Três meses após vender sexo pela última vez comecei como professora, ensinando arte e escrita criativa numa escola pública no Sul do Bronx. Tinha um salário decente, as pessoas me respeitavam. Talvez pela primeira vez na vida eu me sentia útil e apreciada por algo mais que meu corpo, as crianças me amavam, meus colegas me elogiavam.
Mas em 2010, três anos depois, perdi o emprego após contar algo da minha vida num blogue no The Huffington Post. Eu comentava o fechamento da seção de 'Serviços Adultos' da Craiglist. Um tabloide de Nova Iorque viu e me atacou em uma série de histórias nojentas. Claro que fui demitida, numa mensagem perturbadora para todas que tentam deixar a indústria do sexo.
Os críticos dizem que as pessoas devem largar a prostituição, mas aí, de modo hipócrita, também nos atacam quando a deixamos. Recebemos pouco apoio quando saímos. Fui tentada a suprimir meu passado, mas acho que contar nossas histórias é importante para achar um sentido em nossas vidas e experiências. Fiquei sozinha para lidar com a confusão do sentimento de ser uma piranha.
Escrever sobre a minha vida, em blogues ou em histórias curtas em sites literários, ajudou-me a me reconectar com meus objetivos e à identidade que tinha antes de ser uma profissional do sexo. Gostei muito de lecionar, mas só agora começo a me achar.
No outono passado fiz uma parceria com um escritório de advocacia interessado nas causas das trabalhadoras do sexo, incentivando as meninas a escrever suas histórias. Foram oito semanas de workshops que culminaram com a publicação de uma antologia dessas histórias. Espero que programas como esse não apenas ensinem as profissionais a escrever seus casos mas ajudem a sociedade a entender alguma coisa sobre a vida no negócio do sexo, reduzindo o estigma.
Desde que perdi meu emprego de professora arranjar trabalho tem sido uma batalha. Dou aulas quando consigo, mas é pouco dinheiro. Já fui tentada a voltar à profissão, mas resisti. E gostaria que hoje você pensasse nas pessoas que - por quaisquer circunstâncias complicadas - vendem sexo para ganhar a vida. E que descubra que nós não somos diferentes de você.
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