segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Memórias de um piloto de drone

Foi meio por acaso que  Brandon Bryant se tornou um militar. Depois de terminar seu secundário como primeiro da classe, ele foi sondado pela Força Aérea dos Estados Unidos e, na falta de opções melhores, acabou aceitando.
Foi ser piloto de drones. Sentado confortavelmente num container com um colega, ar condicionado permanentemente em 17 graus, portas que não podiam ser abertas por questões de segurança, os dois manejavam quatro teclados e 12 monitores. Seu serviço: apertar um botão, disparar um míssil do drone voando sobre o Oriente Médio, destruir alvos selecionados e, eventualmente, matar gente lá do outro lado do mundo.

Photo Gallery: A Drone Pilot's Hardship
O ambiente de trabalho de um piloto de drone: eles estão matando gente.


Bryant ficou neste serviço por mais de cinco anos. Era cumprir ordens: fazer o drone sobrevoar alvos e, quando viesse a ordem, apertar o botão e disparar o míssil. Ele era um personagem do lado mais obscuro, mais desconhecido e mais terrível da guerra contemporânea: a capacidade de matar à distância e de modo anônimo.
Ele lembra de um dia em particular. Seu drone Predator voava fazendo um oito sobre o Afeganistão, a mais de 10 mil quilômetros de distância de seu climatizado container no Novo México. No solo, um casebre de barro, com um cercado para bodes. E veio a ordem de disparar.
Ele e seu parceiro acertam as coordenadas e disparam o míssil. São 16 segundos até o impacto. "Esses momentos sempre parecem em slow motion", diz Bryant.
Seria possível desviar o míssil até sete segundos antes do impacto, mas faltavam apenas três quando ele viu uma criança correndo num canto da casa. Depois veio a explosão, a casa desabou e a criança simplesmente desapareceu, evaporou.
"Acabamos de matar uma criança?' ele perguntou a seu parceiro, que respondeu: "Sim, aparentemente sim."
"Aquilo era uma criança?' ele teclou no seu monitor para conversação com o comando. A resposta que veio de uma pessoa desconhecida, sentada em qualquer lugar do planeta, foi incisiva: "Não, era um cachorro."
Os dois pilotos de drone reviram a cena gravada várias vezes. Era uma criança.
Bryant saiu para o sol do Novo México ao final do turno e se retirou das forças armadas. Mas diz que até hoje não dorme bem por causa daquela cena, daquele míssil, daquela criança.

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