segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

"Em 1985 eu dei um tiro em alguém"

Michael Krikorian é um escritor norte-americano. Não é famoso nem importante. Mas agora neste dezembro ele resolveu contar um episódio de 1985, há 27 anos. Achei uma história interessante:

"Em 1985 eu dei um tiro em alguém.
Aconteceu no lado de fora do Rustic Inn, um bar numa zona não incorporada de Los Angeles, perto de Compton, onde eu passava a maior parte do meu tempo.
Momentos antes eu estava com meu amigo George tomando Heinekens e uns tiros de Seagram VO ao lado da única porta do lugar. Três caras entraram e começaram a nos encarar. George, um sujeito grandão e sempre pronto a soltar seus punhos, perguntou - no dialeto de Compton - o que eles estavam olhando. E aí começou.
Não sou um grande brigador mas sou um bom amigo e não poderia deixar George sozinho contra três. A luta se moveu dois degraus para fora do bar até onde estavam duas mesas de sinuca - cinco homens soqueando, chutando, se esquivando, usando tacos e bolas de sinuca. Minha memória mais vívida da briga é de uma bola laranja e branca raspando pelo meu rosto e eu - no meio do caos - pensando comigo mesmo 'É a bola 13'.
George e eu levamos a melhor e os três correram, com um gritando 'Pegue a arma!" Aquilo deu calafrios até num bêbado.


Por acaso eu tinha um AK-47 no porta malas do meu carro. Como assim, por acaso? Dois dias antes minha prima Lynn me disse que seu marido não queria ter 'aquela metralhadora' em casa, então peguei a arma e a joguei no porta malas.
Enquanto os três iam até seu carro, peguei a AK no porta malas e disparei. Foi uma rajada de 17 tiros, fiquei sabendo depois. Atirei para assustar, não para matar. Mas uma bala de 7.62 milímetros acertou uma perna. Outra estourou um vidro a acertou a parede de um quarto onde duas pessoas estavam deitadas. Eu poderia ter morto ambos.
Testemunhas levaram a polícia até mim. Fui preso por vários crimes, incluindo tentativa de homicídio.
Fui indiciado para uma pena de 15 anos a perpétua. Lembro de ter esperança, de ansiar, de desejar uma pena de seis anos, cumprir três e o resto em condicional.
Mas porque meu pai pagou 5 mil dólares a um advogado, por causa da argumentação 'éramos nós ou eles', e porque eu sou um caucasiano, só peguei 30 dias na prisão do distrito. 30 dias! Se eu fosse negro e tivesse um defensor público, não tenho dúvidas de que teria sido enviado para a Folsom Prison.
Aí parei de  beber."

A história segue mas o essencial está aqui. Michael tem um problema sério de intolerância ao álcool. Voltou a beber após alguns anos, fez outras bobagens antes de parar definitivamente.
Mas que memória terrível deve ser essa: eu já atirei num ser humano.

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